Perdi algures os sapatos de plebeia
Ficaram esquecidos na sala
Um compartimento que não me pertence
Decorado em estética alheia
Não entro!
Não me diz nada aquele espaço
Enfeitado com móveis e austeros quadros
Nem um passo dou em frente
Não preciso dos sapatos!
Aquele lugar retangular de paredes frias
Está disfarçado de conforto e é jaula
Sinto em mim uma luta
Relutância em invasão
E gemo pois não entro ali
Nem coagida com um empurrão
A dor invade-me
Quero fechar aquela porta
Talhada a regras pregada a disciplina cega
Cravada de aparência de superficialidade
E no centro do meu ser leio a força da oposição
Porque aquele chão sob os meus pés sem atilhos
É feito de pó e degradação
Não vejo grades nem cadeados
Vazio de criaturas está
Mas vejo no compartimento uma negra prisão
Não entro!
Não quero entrar!
Prefiro viver descalça sem estatuto sem riquezas
Sem posição nem conforto
E volto a ser criança descalça pela rua
Contacto com a terra com a relva
Por entre o som das árvores
Ouço o murmurar dos ribeiros
E absorvo a luz da paz da alegria numa dança em
rodopio
Vibro palpitando de entusiasmo
Descarrego a energia do mundo sombrio
E o vento ameno mas preciso toca uma flauta
invisível
Como um mensageiro que transporta consigo
Uma missiva mistério bem disfarçada em assobio
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