É no entroncamento das searas que os meus olhos
cegos
Vêem as raízes das árvores mães debatendo-se pela
criação
Ávidas de água pulsante transformadora de sementes
É na encruzilhada das searas que o alimento se faz
carne
A carne se faz gemido o gemido se eleva ao grito
E o grito se codifica em palavra
Mas a palavra do homem tem lâminas de corte afiadas
E o entroncamento é balança decisiva engano perfeito
Alimento contaminado
Falso arado
Quem dera que em plena seara
As papoulas esvoaçassem ao ritmo do vento
Os lagartos sobreviventes descansassem das correrias
ao sol
Quem dera que as searas se desfizessem em pão de paz
Nutriente de sabedoria ativador de reminiscências
Para que nos pudéssemos reconhecer como semelhantes
E não nos perfurássemos de raivas encenadas nos
cornos das bestas
Quem dera que as searas que desapareceram no meu
país
Voltassem de novo a desabrochar nos campos
Nas imensas planícies onde malmequeres brancos
sorriam à lua
É que as searas perderam-se no entroncamento
E seguiram outro rumo atraídas pela vaidade
Pelo poder pelo dinheiro
E agora chegou o tempo das bocas vazias
De poucas alegrias de suicídios determinados
Pelas cabeças depressivas dos humanos
Que deixaram de saber o que é uma seara
E chafurdam em perfeita amnésia em falsas melodias!
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